quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Mask of self-hate

Apresentação
Larissa olha para os colegas de classe, tenta não retribuir o olhar fixo do professor.

— (O que você quer que eu diga? Quer que eu me apresente dizendo o quanto amo tudo isso e o quanto me sinto realizada? Na verdade ninguém aqui quer saber meu nome, minha idade ou de onde venho, ninguém aqui quer saber realmente o que acho do curso ou o que espero no ramo acadêmico e profissional para o ano de 2014. O que vocês querem ouvir? Querem que eu diga que trabalho no setor administrativo de uma empresa durante 8h por dia ou num estágio de 6h? Querem que eu diga que o que desejo pra esse ano é conseguir absorver muita informação trabalhada em sala de aula e adaptá-las no meu trabalho, querem que eu diga que faço o curso pra aplicar o que é ensinado aqui no meu negócio próprio? Eu sou uma fodida sem expectativa de futuro ao terminar isso aqui, não vou ser concorrente de vocês nas vagas de emprego nas boas empresas. E se eu disser que quero ser professora? Já fiz esse teste algumas vezes, vários colegas já olharam meio torto, só falta rirem de mim, só falta falarem "vai fazer uma licenciatura então, idiota!". Afinal, ninguém aqui quer saber se eu leio, desenho ou escrevo, só querem saber se eu produzo algo do meu ramo acadêmico. Eu faço nada da vida, eu faço nada que vocês queiram saber, eu faço nada que vocês valorizem.). Meu nome é Larissa, tenho 19 anos, moro aqui mesmo, escolhi o curso por ser bastante amplo e, devido a isso, abrir um leque de áreas nas quais poderei atuar.


Conversa aleatória com os amigos sobre atividades acadêmicas
Larissa tenta participar, apesar de estar meio perdida no assunto.

— (Eu só penso em coisa teórica, nenhum professor vai querer orientar meus artigos teóricos, não quero ir lá estudar uma empresa, estudar várias empresas, eu quero pesquisa bibliográfica. Sinto uma inveja boa de vocês, queria muito conseguir compreender o que estudamos, queria pensar em temas que chamassem a atenção, sei que vocês já têm que se preocupar com o TCC, aposto que muitos farão no setor de Logística, sobre Gestão de Compras, quem sabe muito apresentarão a proposta de intervenção, é possível que apareçam Sistemas de Informação muito interessantes, tem gente que trabalha com RH, aposto que fará algo dentro disso ou quem sabe alguém fale sobre Gestão Ambiental, mas eu nada. Fico feliz por vocês, acharia que o problema é com o curso se vocês também se sentissem perdidos, mas acho que só eu que não consigo me achar aqui dentro. Prefiro não expor minha frustração.). Ah, eu também quero tentar publicar algum artigo esse ano, acho que farei um sobre Marketing em Instituições Privadas de Ensino Superior, gosto muito de Administração Mercadológica.


Inferioridade
"Self-purification and anti-humanity."

— (Eu não sei do que você tá falando, não sei se quero saber... Mentira, quero saber, adoraria saber, mas se pergunto "o que? por que?" você acha que estou demonstrando desinteresse, mas a verdade é que eu realmente não consigo entender direito se não fala detalhadamente. Quer que eu diga que sei sobre algo? Quer que eu disserte oralmente sobre algo que sei? Eu sei nada, o que eu sei não me parece legal de dizer. Eu nunca li nada complexo, só autoajuda e romance idiota, não sei falar sobre a vida, não sei apresentar perspectivas diferentes sobre assuntos aleatórios, não sei aplicar teorias simples. O que você quer que eu diga? Eu não sei falar se não for pra reclamar do meu atual estágio do ciclo de vida. Eu não faço curso legal na faculdade e não tiro muitas coisas boas das aulas que poderia tirar. Eu não tenho algo pra te oferecer, acrescento nada realmente relevante a sua vida. A raiva e ódio que sinto de mim, fazem com que eu trate você com hostilidade e pense que você está tentando ser superior, sempre penso que quer expor sua superioridade e apontar coisas que fazem eu me sentir uma merda, mas sei que não é isso, parte de mim diz que é, só que você não faria isso. Mas às vezes queria te perguntar o que você quer que eu diga? Quer que eu despeje conteúdo? Eu não tenho conteúdo, eu não sei embasar minhas paranoias, minhas críticas não têm fundamentos, eu não trago comigo um bom referencial teórico sobre a vida ou sobre a morte. Existem pessoas que têm muito mais a te acrescentar, que têm muito mais pra te dizer, queria não ter ciúme disso, queria ficar feliz por você ter com quem discutir sobre determinadas coisas, mas queria poder discuti-las com você, queria que você achasse incrível algo que eu comentei, mas só faço comentários ofensivos sobre determinadas pessoas, só faço comentários chatos sobre a minha vida pessoal e meu dia-a-dia, só reclamo, só lamento, só falo mal da faculdade, só falo mal de ter que estudar. Você é muito mais que isso, você é muito mais do que eu sou capaz de ser. Eu não sei falar sobre o que você fala e você já sabia muita coisa antes de estudar sobre elas. Eu não tiro as melhores notas, na verdade eu tiro as piores notas, eu não participo, eu não tento, eu não faço, eu não estudo, eu levo tudo no chute, empurrando pra frente um pouco de cada vez. Falei pro meu pai que evito certas conversas pra não me sentir inferior e ele respondeu "Mas você não está competindo, fulano não é teu concorrente.", meu pai está certo dessa vez, mas não é competição, não é concorrência, eu só queria ter algo pra você, porque você tem muito pra mim, eu só queria ser melhor do que eu sou pra poder te acompanhar, porque eu não consigo acompanhar.). O que? Interessante isso. Mas por que? (pausa) Ah, tudo é uma merda, você que estuda, boa aula, eu vou ficar aqui vegetando e reclamando da vida no twitter.

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