sexta-feira, 15 de maio de 2020

Anthony entra pela porta da cozinha em busca de um copo d'agua quando é abordado por Henry.

É isso, Anthony. Sempre foi.
A filosofia enlouquece o homem. Há aqueles que dizem que o amor destroi a bravura dos homens, bobagem, Anthony, escute bem o que eu te digo, a filosofia enlouquece o homem.
Passei incontaveis anos dessa miserável vida me dedicando ao entendimento do ser e veja só onde vim parar, sozinho sentado nessa cadeira divagando sobre tudo que eu ainda não sei. Me perdoe, Anthony, não queria estar fazendo você gastar tempo comigo, mas tudo vai acabar um dia e eu preciso que saiba que a filosofia é uma praga avassaladora que arranca suspiros dos homens com seu trottoir.

Já não escrevo como antigamente, voce se lembra dos meus escritos? Comecei viver de uma forma estranha onde passado, presente e futuro se misturam dentro da minha mente, as vezes penso que estou lá quando permaneço aqui ou vice-versa. Não espero que entenda isso, eu também não entendo, acabei me tornando muito alheio a mim, as vezes tenho a impressão de que vejo minha vida de fora dela.

Costumava desenhar, ah, como gostava da magia que acontecia quando o lápis tocava o papel. Mas a filosofia me enlouqueceu, minha arte se suicidou no niilismo. As pinturas viraram um fardo, a criação foi assassinada pela obrigação de achar um sentido, eu não queria ilustrar apenas, eu queria que aqueles personagens se explicassem por si só, sabe, pra me poupar das brigas internas em busca dos seus motivos de estarem ali.

Veja só, Anthony, a existência resumida ao pó, me soa muito engraçado dizer isso, dá um ar meio cristão... Sabia Anthony que já acreditei em mais deuses do que tenho dedos pra contar? Eu sei que parece uma piada, mas eu adorava buscar algo para crer, infelizmente fui crer na filosofia e acabei enlouquecendo. Sempre a chamava de deusa da sabedoria, hoje percebo que seria uma dádiva nunca ter me encantado por ela.

No próximo mês completo 67 anos,. Sem família, sem amigos, minha esposa me deixou há 32 anos e saiu gritando ao universo que eu seria um velho louco e sozinho porque não sabia aproveitar as pequenas alegrias da vida, só tenho esse gato cinza tão rabugento quanto eu e agora estou desabafando com o rapaz que corta a grama.

Nunca esqueça, Anthony, a filosofia enlouquece os homens até que eles não vejam mais o verde da grama no quintal.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Goodbye -Gray- Sky

"The flames are all long gone...

Aposentei esse blog, mas me recuso a deletá-lo ou deixá-lo privado. Eternizei aqui muitas dores, muitas tristezas e talvez muitas coisas que valorizo. Não quero lê-las novamente, não quero continuá-las. Talvez um dia apareça aleatoriamente sem pretensão de dar sequência ao que estou enterrando aqui, jamais cavarei novamente essa cova tão funda, pois a semente da árvore que plantei ainda não se desenvolveu tanto e não tem suas raízes tão firmes, o broto pode morrer caso eu revire a terra ao redor. Com tudo de ruim que aqui se encontra, adubei o solo. Um dia crescerá forte e saudável, florescerá e dará frutos. Mas para que isso aconteça... precisa de sol.



Goodbye gray sky,
Bruna Frotscher.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Eu tô na paz

Tenho me irritado com coisas que não dizem respeito a minha própria vida, mas acabam, de certa forma, caindo sobre mim. Há muito tempo melhorei minha visão sobre as coisas e sobre a humanidade, isso pode ser visto através dos meus textos que já não aparecem aqui com tanta frequência, pois optei por ocupar minha mente com outros afazeres menos fúteis. Calma, não estou dizendo que a escrita é fútil, amo escrever e isso é uma das poucas coisas em que me considero (talvez) boa, mas isso funcionava de uma maneira errada na minha vida e ao invés de passar tanto tempo lamentando a minha condição existencial de maneira hipócrita e mal embasada, preferi deixar um pouco de lado e, bom, viver de verdade. Não que hoje eu faça coisas realmente mais importantes, continuo na mesma rotina medíocre de passar várias horas em frente ao computador, estudar, assistir uns filmes e procurar um emprego, mas percebi que me diminuir perante os outros, desfazer das coisas nas quais me considero boa e depositar meu ódio na existência e na humanidade, me levavam a lugar nenhum, só me faziam pior e faziam com que eu destruísse os bons momentos e afastasse as pessoas que gosto de ter perto de mim. Isso tudo fez com que minha ansiedade diminuísse e eu, finalmente, pudesse ficar mais tranquila em relação a minha própria vida. O que tem me irritado em alguns momentos é o fato de ver algumas pessoas com os olhos que alguém já me viu um dia. Sabe... aquela sensação de "orra, mano, você tem tudo pra ser uma pessoa massa, por que você age dessa maneira? por que essa pseudo auto destruição? as pessoas vão se afastar de você por isso...", muitas pessoas me disseram isso nos momentos que tive atitudes ridículas e me encontrava num estado deplorável, por isso hoje consigo entender que afastei muita coisa boa devido ao meu comportamento e, felizmente, consegui recuperar as mais importantes e não quero perdê-las de novo, ainda mais por bobagens minhas. Acho que é preciso parar e refletir de maneira sensata, ficar sozinho, pensar, afastamento é necessário as vezes e o isolamento é algo muito importante numa fase assim. Se distanciar da situação pra conseguir vê-la com mais clareza, entender, compreender, buscar alternativas e encontrar uma solução. Não quero generalizar, mas é algo que deu e está dando certo pra mim. É inocente demais pensar que os outros se importam, não estou falando de pai, mãe, irmão, namorado, mas de todos os outros no geral. Sinceramente, ninguém se importa com o que você está fazendo com a sua vida, ninguém vai se comover caso você se vitimize, e postar no Twitter que quer morrer vai fazer os outros julgarem você e não te consolarem e te mandarem mensagens expressando carinho. Eu já fiz isso, não uma e nem duas vezes, várias, em dias nos quais eu realmente desejava morrer e hoje eu vejo o quão ridícula eu era em ficar gritando coisas desse tipo numa rede social tão desnecessária. Excluia as redes sociais e sumia por uns dois dias da internet, postava textos dizendo o quanto eu me odiava e fingia que não me importava com coisas que na época eu me importava, agia como uma pré-adolescente que não assumia responsabilidades pelos próprios atos e me prendia em coisas fúteis pra tentar preencher vazios da minha própria personalidade. Realmente ninguém se importa. Ninguém liga se você pintou o cabelo esse mês ou se você está há nove meses sem pintar o cabelo, ninguém liga se você fez um nova tatuagem, se você engordou ou emagreceu, ninguém liga se você está feliz ou triste, ninguém se importa com a tua rotina ou com o que você pensa de si mesmo. Antes eu achava que algumas coisas não davam certo porque alguém tinha interferido, mesmo que em sã consciência eu soubesse da minha responsabilidade pelas minhas escolhas, nos momentos que eu perdia o controle, eu queria culpar os outros e me via cega de tudo que eu sabia sobre mim. A verdade é que ninguém quer ferrar ninguém, ninguém quer copiar ninguém, ninguém quer ser ninguém, as pessoas estão todas vivendo as suas respectivas vidas e você que pensa o contrário disso está perdendo a chance única de viver a sua própria vida e se preocupar consigo mesmo. A gente é tão pequeno no meio de tudo isso, de toda a imensidão do universo, que me traz paz só de pensar que existe tanta coisa, me tranquiliza o quão pequena sou no meio de tudo isso. Tem muito mais pra se viver além das telas de computadores e celulares, tem muita visão mais linda longe do Instagram e muita tristeza de verdade longe dos RT's e Favs do Twitter. Como já disse, não quero generalizar, longe disso, só estou comentando essas coisas que vejo do dia-a-dia, salvo no meio do que eu disse as pessoas que realmente sofrem algum tipo de preconceito, que se sentem oprimidas por motivos reais e aquelas que convivem com contratempos delicados e sérios nas suas vidas, pois me limitei a falar do que eu conheço, de gente que, assim como eu, só queria aceitação, mas que, diferente de mim, atingiu níveis extremos de atitudes desnecessárias para chamar a atenção (e não no sentido ruim, entendo que as pessoas precisem disso) e se sentir aceita pelos indivíduos no circulo social em que está ou quer estar inserida. Parece que falei, falei e acabei por dizer nada, mas em resumo, as pessoas se importam tanto com a imagem que passam, que esquecem quem elas realmente são e se vitimizam por coisas que eram do tamanho de uma gota d'água, mas elas transformaram num oceano pra poderem construir um navio de três andares de tristeza e ódio próprio e jogá-lo lá no meio de uma tempestade. É fácil criar motivos pra sofrer, eu já fiz isso e quando eu sofri de verdade ninguém me deu moral, porque sabiam que eu desenterrava motivos para me afogar num mar de tristeza. Também não estou dizendo que a vida é bonitinha e tudo vai melhorar e dar certo, mas não adianta esperar novos resultados enquanto continua insistindo nos mesmos erros, não adianta querer que as pessoas te acolham e te entendam, quando você não se entende, não vale a pena contar história triste pros outros, eles podem até falar um "sinto muito", mas não, o ser humano é egoísta. Então foda-se, é, exatamente isso, foda-se tudo isso. Se alguém fala mal de você por aí? Foda-se. Se você estiver bem consigo mesmo, o resto todo não importa mais. Tem que fazer as coisas por si mesmo e não pros olhos de gente que você pensa se importar, mas que na verdade nem lembra da tua existência. Agora... se você não se aceitar, não adianta buscar a aceitação dos outros. Porque as vezes a atenção que você tanto procura é alcançada, mas de uma maneira ruim, que faz os outros te notarem por atos desprezíveis e se afastarem de você.
Claro que eu posso estar sendo uma hipócrita dos infernos, mas o tempo tá aí pra gente mudar de opinião sobre as coisas e nunca é tarde pra ter uma postura melhor em relação a vida.

Isso não é sobre mim, nem sobre você, é sobre a tragédia do "sou mais não sei o que que fulano" ou "minha foto tem x mil curtidas" e sobre a banalização do amor, da tristeza, da depressão, da vida e da morte.