quinta-feira, 16 de abril de 2015

Brona

Eu não gosto de falar as coisas porque tudo gera uma imagem errada do que eu sou. Se eu digo ser triste já me colocam uma placa de "paga de depressiva na internet", se eu digo estar feliz falam que sou hipócrita, visto que reneguei a felicidade tantas vezes. Qualquer coisa é um motivo pra surgirem milhões de hipóteses e ofensas sobre o que fui, o que sou e o que serei, sendo que, assim como todo ser humano, estou em constante mudança até o dia que eu morrer. Quando eu digo que adorei a tristeza não é num sentido bonito, é no sentido mais triste possível (que ironia dizer isso), mas adorei e cultuei, repito isso tantas vezes, talvez seja pra me enganar, quem sabe se eu repetir isso no passado, ela realmente fique no passado. Fiz da minha mente, do meu quarto, do meu corpo e da minha vida um santuário pra tristeza e ainda hoje em alguns momentos de distração me pego a chamá-la, em madrugadas avulsas na semana ainda me pego a louvá-la, mas não quero, não a quero mais. Maldita seja, vem de longe encantadora, me ganha fácil nas suas palavras suaves, me envolve no (des)prazer das suas nostalgias. Ela chega roubando meu melhor sorriso, me deixa em suspiros e quando tranca a porta, deixa marcas até nas paredes. Me tentou e me deixei levar pela primeira vez, se aproveitou do meu desespero e ofereceu abrigo, seu abraço aconchegante tomou conta do meu ser. Maldita seja ela, que aos poucos me ganhou, tirou o melhor de mim, deu sentido pras letras de músicas que até então eram insignificantes, deu sentido pra minha arte, pro fim de tarde, pro pôr do sol. Maldita seja ela, que deu sentido à todas as madrugadas viradas e à melancolia que chega quando o dia começa amanhecer. Achei que seria como todo amor que sempre tem um fim, que haveria um rompimento, um término, que um dia nos separaríamos, afinal, todo amor muda, todo amor te dá as costas pelo menos uma vez, mas com ela não, nunca seria assim. Quando me via sem saber pra onde correr, ela me ensinou a caminhar ao seu lado. Quando me via em prantos, ela me confortava com suas palavras de entendimento. Ela sabia, ela entendia muito melhor que eu. Quando fui abandonada por todos, ela me fez mais forte, pois ela quem importava, com ela eu nunca estaria sozinha. Foi minha, tão minha, que me perdi pra ela, se apossou de mim, vive em mim, é parte de mim. Nunca me decepcionou, foi mãe, foi pai, foi amigos, foi namorado. Me fez desistir da minha vida e construir a nossa vida, minha e dela. E se eu disser que ela sempre me rodeou? Desde a infância eu já via pequenos rastros dela ao meu redor, em alguns momentos tentava me ajudar, mas eu, vendo o mundo através de outros olhos, negava sua presença, não queria sua companhia e na adolescência foi a mesma coisa, ela batia na porta, mas eu não a deixava entrar. Hoje, juntas como uma e contra todos os outros, encontramos companhia em copos de conhaque e carteiras de cigarro, ela me escuta falar sobre as desgraças da vida, rimos de bobagens aleatórias, me acompanha nos bares e praças da cidade, dividimos até a mesma cama pra dormir, ela está em todo lugar e eu a amo. Amo-a na certeza do quão mal me faz, amo-a na dor e sofrimento pela humanidade, amo-a em cada crise de ansiedade, cada crise de choro ou de raiva, amo-a em todos os momentos, pois soube cultivá-la, cativei-a para que ela nunca me abandonasse. Intoxicated with the madness, i'm in love with my sadness. 

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