quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Um breve texto sobre confiança e intimidade

"Amar é abrir-se para o desconhecido."
Assim se inicia, na página 9, a apresentação do livro "Reversíveis", de Nick Farewell.
Vivemos tantos anos nesses poucos meses, que me recuso a concordar com o que muitos dizem sobre confiança e intimidade estarem relacionadas com tempo e convívio. Perdi a noção do tempo quando te encontrei e, se foi um jogo, pode ter certeza que eu perdi. Perdi toda a armadura que me mantinha ilesa, perdi a chave da porta do meu interior deteriorado pelos fantasmas do passado que, vez ou outra, insistiam em me assombrar. E você, sempre tão seguro de si, quantas vezes se pegou amedrontado diante dos meus olhos, mas eu sabia, tinha certeza que naquele momento em que abriu os braços para me abraçar, abria também o caminho direto para um lugar onde nenhuma outra pessoa conseguiu chegar. Aprendi com você o real significado da confiança quando compartilhamos essa abertura ao desconhecido, quando nos abrimos um ao outro, mesmo com medo, mesmo correndo riscos, mesmo sem ter ideia de como o outro reagiria. A intimidade que existe entre a gente nesse período em que compartilhamos medos, desespero, piras erradas, coisas das quais nos envergonhamos de ser ou fazer, é maior do que qualquer elo já criado nesse mundo. Se algumas pessoas conseguissem imaginar o que se passa entre nós, talvez nos chamassem de loucos, mas nem mesmo nós conseguimos pensar nisso, é algo completamente inexplicável, inefável. Se isso for possível, está mais do que óbvio que temos uma ligação mental muito forte e que todo o passado que tanto nos deixa com raiva, nojo e sangue nos olhos, moldou nossas personalidades para que nos encontrássemos, colidíssemos e produzíssemos uma pequena onda de caos externo, enquanto nosso interior conhecia a tranquilidade do primeiro olhar sincero de dois patifes. Me abri ao desconhecido e hoje a nossa intimidade e confiança vai muito além do físico, ultrapassa as barreiras que criamos para todas as outras pessoas que passaram pelas nossas vidas, porque já não fazemos as coisas sozinhos, fazemos juntos, somos dois em bilhões e, para nós, somos os únicos, não existe ameaça, não existe algo mais forte que nós dois juntos. Eu consigo me ver nos teus olhos e sei que você consegue se ver nos meus, tão pequenos somos nesse momento espelhados no globo ocular um do outro, mas a certeza de que nos arrastamos por anos, apenas existindo, para um dia despertarmos da morte em vida e preenchermos o buraco no peito com vontade de ser e viver um para o outro, um com o outro, é tão grande que pode suprir qualquer pequenez da existência.

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