quinta-feira, 8 de maio de 2014

There is no love and there is no pain

"A minha dor não é de inconformismo. A minha dor não é de decepção. A minha dor não é de desencanto. A minha dor não é de traição. A minha dor... a minha dor é de morte. Alguém morreu hoje. Algo morreu hoje. Eu morri hoje.
Hoje morreu algo em que eu acreditava.
Hoje morreu algo em que eu acreditei.
Hoje morreu algo em que eu queria acreditar.
Hoje morreu uma vida.
Hoje morreram duas vidas.
Hoje morreu um mundo inteiro.
A vida é engraçada. Agora começo a ver o chapéu de esquilo como um prenúncio. Era um enfeite de um amor morto. Hoje tudo morreu e a tristeza não cabe em mim e não cabe em nenhuma palavra, nenhum sentimento. Hoje nada importa. Arrastei pelas ruas meu coração partido como um pendurricalho, repetindo milhares de vezes "por quê?", "por quê?", mas só via pétalas caindo também mortas aos meus pés. O pássaro silenciou, o cão emudeceu e as pessoas todas andavam de cabeça baixa. E eu nem consegui chorar, tamanha era a minha revolta.
Homens nasceram para estragar e não para construir?
Eu nasci com uma predisposição errada para acreditar? Por que sempre enxergo o desvio de conduta? Homens não nasceram para curar, e sim só para sofrer? Eu também sofro agora. Sofro como alguém sofre as dores da morte, dilacerada, exposta e humilhada.
Como ele pôde? Como ele pôde? Como ele pôde? Corri como uma louca, embaraçando os cabelos de propósito, queria esconder os rastros de lágrimas que borravam meu rosto. Fingia que eram os meus cabelos que me cortavam. A cor preta era a cor do sangue mortificado.
Que triste espetáculo! Eu era involuntariamente protagonista de uma cerimônia fúnebre, maquiada, capengava uma desajeitada dança da morte. Fiquei horas a fio debaixo do chuveiro me sentindo suja, ultrajada e violentada, cuspindo no ralo a sujeira que me besuntava. Eu me sacrifiquei e ele me sacrificou. Estava tudo morto. Ainda nua, fiquei sentada na cama, sentindo um estranho cheiro de ocre que sabia que pertencia a ele, exalando da minha pele. Mas sairia. Eu jurei que sairia do meu corpo, como quem troca de pele. Você vai sair. Como pele morta. Inerte. Sem vida.
Triste. Infinitamente triste.
Vou deixar o Chico diluir a minha alma. Se o Sr. Fahrenheit pode, por que não posso também? "Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu."
Acabou. Acabou.
"Eu não quero levar comigo a mortalha do amor."
Adeus.
Adeus, meu amor.
Adeus."

Mr. Blues & Lady Jazz, página 138-139.

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