terça-feira, 27 de julho de 2010

GO - Nick Farewell, trecho.

(...)
- Você está amargurado com alguma coisa? Está triste?

Mas o que essa garota tem? Estudou psicologia por correspondência? Faz leitura de alma?

- Que resposta você quer? Quer cavar algo interessante na minha miserável vida? Quer que eu diga que faço algo interessante? Algum projeto de vida? Algo que faça me identificar com você? Quer que eu diga que eu fotografo, que tenho uma banda de rock ou que estou preparando a minha exposição individual? Não, garota, sou um fudido sem perspectiva nenhuma. Não sou como você. Quer saber a verdade? A minha vida toda nunca consegui encontrar o que eu realmente quisesse fazer. Achei que tivesse encontrado, eu tentei tudo para levar adiante, mas também não consegui. Essa patética figura que você vê sou eu. Eu não sei fazer nada na vida. Não acredito em nada. Não tenho talento para nada. A não ser essa infinita capacidade de ter pena de mim mesmo.

Tudo silencia à minha volta. Eu peço licença para chorar no banheiro para combinar com meu melodrama.

- Espera.

Eu viro, instintivamente, e percebo que estou realmente prestes a chorar.

- Eu também não sei fazer nada. A minha vida é um completo fracasso. Embora todos achem que eu sei muito bem o que eu quero.

O que é isso? Reunião de fracassados anônimos? Mas tenho que confessar. Ao dizer isso, a garota despertou uma espécie de compaixão em mim que nem eu sabia que existia. Quero abraçá-la.

- Está tudo bem. Somos dois perdidos. Mas parece que nós encontramos um ao outro. Isso deve ser alguma coisa. Podemos passar a noite inteira tentando descobrir quem é mais fracassado do que o outro. Que tal?

(...)

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